É comum encontrar crianças agitadas e com dificuldades de relacionamento na escola, às vezes rotuladas como “avoada” pelos professores ou descritas como sempre estando “no mundo da lua”. Essas crianças parecem estar constantemente agitadas, como se estivessem “ligadas a 220 volts”.
Embora isso possa ser parte normal do desenvolvimento infantil, aproximadamente 4% das crianças podem desenvolver sintomas adicionais que indicam problemas comportamentais, como dificuldades com regras e limites.
Esses comportamentos e sintomas estão frequentemente associados ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), de acordo com a literatura médica.
O que é TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), de origem genética e neurológica, manifesta-se na infância e muitas vezes persiste ao longo da vida. Caracteriza-se pelos sintomas principais de desatenção, agitação e impulsividade.
Este transtorno está associado a alterações na região frontal do cérebro e em suas conexões com outras áreas cerebrais. O lóbulo frontal, responsável por regular emoções, comportamento social, planejamento, memória e linguagem, é particularmente afetado.
O TDAH é o transtorno mais comum entre crianças e adolescentes, afetando de 3% a 5% delas. Em cerca de metade dos casos diagnosticados, o transtorno persiste na vida adulta, embora os sintomas de hiperatividade possam diminuir em intensidade.
Quais são as principais características do TDAH?
A literatura médica classifica o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade em três tipos distintos:
- Predominantemente hiperativo e impulsivo;
- Predominantemente desatento;
- Combinado.
Os sintomas do TDAH (hiperatividade, impulsividade e desatenção) são apresentados de maneira variada e em diferentes intensidades, dependendo do tipo de manifestação do transtorno em cada indivíduo.
Comportamentos de desatenção
- Dificuldade de planejamento e organização do tempo;
- Desatenção ao ouvir outras pessoas;
- Falta de concentração durante tarefas;
- Memória de curto prazo confusa;
- Dificuldade em seguir instruções;
- Distração frequente, com a mente “nas nuvens”;
- Evitação de tarefas que requerem foco e pensamento prolongado.
Comportamentos de hiperatividade e impulsividade
- Incapacidade de permanecer parado, necessitando de movimento constante;
- Inquietação intensa;
- Dificuldade em alternar entre diferentes conversas e atividades;
- Tendência a assumir riscos desnecessários;
- Fala em um tom mais alto e emite ruídos excessivos.
Apesar dos comportamentos clássicos associados ao TDAH, não devemos esperar que todas as pessoas que sofrem desse transtorno apresentem os mesmos sintomas, ou todos eles. Especialmente em crianças, é comum que algumas tenham um comportamento mais introspectivo, o que pode mascarar o diagnóstico. Isso acontece porque, na infância, as crianças ainda têm dificuldade em se expressar, o que pode dificultar a identificação dos sintomas clássicos do TDAH.
Como é realizado o diagnóstico do TDAH?
Até o momento, não foram identificados marcadores biológicos que ajudem no diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Portanto, o reconhecimento desse transtorno geralmente envolve uma extensa anamnese (entrevista) conduzida por um profissional médico especializado, como um neuropediatra, neurologista ou psiquiatra.
Raramente o diagnóstico é feito em crianças com menos de 5 anos de idade, pois seu comportamento ainda é muito variável e sua capacidade de atenção ainda não está completamente desenvolvida. No entanto, é importante observar que o TDAH pode se manifestar em idades mais jovens.
Os sintomas do TDAH podem se sobrepor aos de outros transtornos infantis, portanto, um diagnóstico preciso com profissionais especializados é essencial. A participação dos pais, professores e outros cuidadores da criança é fundamental nesse processo. O histórico de vida completo da criança, desde a concepção, bem como o histórico familiar, serão avaliados.
O processo de diagnóstico do TDAH geralmente envolve três etapas distintas:
Avaliação médica
O processo busca identificar as condições sintomáticas que podem ser tratadas e aquelas que têm tendência a piorar, utilizando principalmente a anamnese para compreender todo o histórico de vida e sua relação com os sintomas.
Avaliação do desenvolvimento
O objetivo é determinar o início do transtorno e a evolução de seus sinais e sintomas, utilizando a verificação dos marcos de desenvolvimento da criança, como a linguagem, por meio de escalas de avaliação específicas para esse propósito.
Avaliação educacional
Seu propósito é registrar os sinais e sintomas que possam influenciar o desenvolvimento educacional da criança, utilizando escalas de avaliação que serão comparadas com as escalas de desenvolvimento. É importante ressaltar que o diagnóstico do TDAH é feito por meio de uma análise global dos sintomas e avaliações, e análises isoladas não são suficientes para confirmar ou descartar o transtorno. Consulte sempre um profissional especializado na área.
Qual é o tratamento do TDAH em crianças?
O tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) difere das doenças comuns, pois requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais das áreas médica, mental e pedagógica. Além disso, a participação dos pais e, quando necessário, dos professores é fundamental para o sucesso do tratamento da criança.
De forma geral, o tratamento do TDAH pode incluir três linhas de terapias:
Tratamento comportamental (psicoterapia)
A realização de um tratamento comportamental tem por finalidade realizar intervenções terapêuticas que visam auxiliar a criança no auto monitoramento, no controle de impulsos e na modelagem ambiental. Este tipo de tratamento é realizado por profissionais especialistas, como psicólogos e terapeutas ocupacionais, que costumam utilizar a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Esta terapia é responsável por efetivar mudanças de comportamento e estimular hábitos mais saudáveis, fazendo com que a criança enfrente os problemas causados pela TDAH, trazendo motivação e autonomia.
Tratamento medicamentoso (remédios)
O tratamento da TDAH por meio de medicamentos tem por objetivo estabilizar os sintomas do transtorno, tais como desatenção e impulsividade. Sua utilização pretende, por finalidade, favorecer questões relacionadas ao comportamento da criança, facilitando sua interação social, seu desempenho escolar e seu desenvolvimento psicopedagógico. Este tipo de tratamento pode valer-se de três tipos de remédios: psicoestimulantes, antidepressivos e antipsicóticos.
Tratamentos alternativos (naturais)
Além dos tratamentos comportamentais e medicamentosos, existem os chamados tratamentos alternativos, ou naturais. Especificamente para crianças, costumam-se utilizar terapias como a prática da yoga, o shiatsu e a acupuntura, todos objetivando o controle dos impulsos e a diminuição da ansiedade. Nesta mesma linha de tratamento, há um maior cuidado com a alimentação, por meio de intervenções nutricionais, e um reforço nos estímulos físicos através da prática de atividades físicas regulares.
Como Entreter uma Criança com TDAH
As desordens neurológicas causadas pelo Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade afetam principalmente como a criança interage e se relaciona com o meio em que está. É importante que pais e cuidadores tenham atenção especial aos detalhes, o que ajudará a criança a reduzir os estímulos em geral, diminuindo o impacto dos sintomas da TDAH.
- Organize o dia a dia da criança, tenha uma rotina previsível e clara. No decorrer do dia, alterne as atividades de maior e menor interesse, sem concentrar o mesmo tipo de tarefa em apenas uma parte do dia.
- Estipule limites concretos e objetivos, e explique para a criança quais são estes limites. Sua atitude disciplinar deve ser equilibrada, sempre indicando sugestões concretas à criança, que a ajudem a se desenvolver.
- Entenda as limitações e inabilidades decorrentes da TDAH. Suas expectativas em relação à criança devem estar de acordo com as possibilidades dela, para que não se crie uma pressão externa maléfica.
- Sempre que possível, utilize mais de um método sensorial na execução das tarefas. A audição, a visão, o tato, o olfato e o paladar devem fazer parte da rotina de aprendizagem da criança com TDAH, mas sempre com parcimônia e sem exageros, para que o conforto sensorial seja gradativo e bem aceito.
- O ambiente de convivência deve ser acolhedor, onde a criança sinta segurança e desejo de permanecer. Evite locais onde o som reverbera muito facilmente. A iluminação deve ser clara e geral, evitando-se a utilização de fontes variadas de luz.
- Ao se comunicar com uma criança com TDAH, busque sempre o contato visual. Suas indicações e solicitações devem ser curtas e objetivas, e quando possível, repita a instrução e solicite que a criança também repita, certificando-se de que ela compreendeu.
- Utilize reforços positivos sempre que a criança for bem-sucedida na realização de suas tarefas, especialmente quando ela estiver praticando seus hábitos sociais e de comunidade. Dessa forma, sua autoestima se elevará e seu comportamento social será facilitado.
Qual brinquedo escolher para uma criança com TDAH?
Não há “o brinquedo ideal” para uma criança com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), mas sim recomendações e cuidados a serem avaliados individualmente. Mais importante do que buscar o brinquedo perfeito é considerar a quantidade, pois um excesso pode causar distração e piorar os sintomas relacionados à concentração.
A qualidade dos brinquedos deve ser avaliada não apenas em termos do objeto em si, mas também em sua proposta pedagógica e potencial de uso. É essencial considerar os gostos e desejos da criança para promover maior afetividade e engajamento com o brinquedo.
Brinquedos lúdicos, sem objetivos pré-definidos, são boas opções, pois permitem que a criança crie suas próprias brincadeiras, reduzindo o estresse e a distração. Jogos de tabuleiro também são úteis, pois estimulam o planejamento, o raciocínio e a tomada de decisão, embora devam ser escolhidos com cuidado para evitar competitividade excessiva.
Atividades artísticas também são bem-vindas, pois ajudam a melhorar a atenção, o foco e a regulação emocional da criança, além de contribuírem para o desenvolvimento da autoestima.
Lembre-se sempre de que brincar é melhor quando compartilhado, então aproveite para brincar com seu filho e fortalecer os laços familiares.
Dicas de brinquedos educativos lúdicos
Confira algumas sugestões de brinquedos lúdicos:
- Cenários para Contar Histórias: São ferramentas essenciais no processo de aprendizado, oferecendo uma forma divertida de ensinar e transmitir conhecimento. Através de narrativas, as crianças têm uma maneira mais envolvente de aprender, estimulando a criatividade, a resolução de problemas e a experimentação.
- Arco-Íris Pedagógico (Waldorf e Montessori): Este brinquedo, não definido e manipulativo, é um recurso valioso para desenvolver a criatividade e oferecer experiências sensoriais às crianças, permitindo oportunidades de construção e desconstrução.
- Jogos Tangram: Disponíveis em diferentes modelos, estes jogos são ótimos para exercitar o raciocínio lógico, a percepção espacial e a resolução de problemas, estimulando habilidades de visualização e análise geométrica.
- Animais de Encaixe: Estes brinquedos promovem a criatividade e auxiliam no desenvolvimento da linguagem, através do reconhecimento de formas, nomes e sons dos animais. Essas conexões são fundamentais para o desenvolvimento da consciência fonológica, contribuindo para a alfabetização futura.